Viva a (in)dependência à moda MPLAl! – Lucas Pedro

Opinião Última hora

Às vezes, rir é o último acto de resistência. Mas não façam barulho, meus irmãos! Vamos manter a compostura. Afinal, estamos a celebrar 50 anos de (in)dependência nacional!

Fonte: Club-K

Cinquenta! Meio século de liberdade pintada às cores preta, vermelha e amarela. E a democracia? Essa foi-nos imposta, com laço e tudo. É fake.

Os registos estão à mercê de todos. É só mesmo preguiça vossa de pesquisar. Mas ajudo. Recordemos o grande momento de 1975, quando o “camarada” António Agostinho Neto, com voz firme e peito cheio de ar (ou de uvas fermentadas?), disse: “Em nome do Comité Central do BP do MPLA, proclamo perante África e o Mundo, a independência de Angola.”

A população ouviu, vibrou, bateu palmas… e só percebeu o truque cinquenta anos depois. A independência foi proclamada, mas a dependência ficou vitalícia.

Pois é… o inditoso general José Adão Fragoso deve estar a gritar aos quatro ventos lá no além. Neto, a esta hora, deve estar a apanhar uns bons ralhetes. Ninguém se mete!

Meio século depois, estamos tão independentes que dependemos até boa vontade do MPLA. O país evoluiu. Antes andávamos a pé, agora andamos parados no trânsito sem escapatória.

Os contentores de lixo nos alimentam dia e noite. É o self-service do povo. A economia diversificou-se. Além do petróleo, temos o negócio da paciência e zungamos a senhora esperança.

A terra já não é nossa. Agora é dos chineses e dos homens armados que andam com os caenches. Esses pisam bem. Ninguém se mete com eles. Muitos atrevidos já estão a menos de dois metros do chão.

A justiça ainda é cega. Talvez só quando Jesus voltar à Terra. No Fala Angola, basta entrar na fila interminável até chegar a sua vez de denunciar. “Justícia! Queremos justícia!”. Todos gritam, mas nunca chega.

Porque quando o processo chega ao tribunal, tudo volta ao normal. Os assassinos, os marimbondos do Governo e os bandidos negociam a justiça com os juízes do Comité de Especialidade do MPLA a preço de moedas de ouro, e vão para casa descansar. No dia seguinte, são nomeados e voltam a fazer trafulhas.

A procura de emprego é o nosso desporto nacional favorito. Procurar, procurar e… procurar. Alguns sortudos pagam para tê-lo, mas o salário não compensa nem um pouco.

As mamãs já fazem “sócia” nos armazéns. Há sócia para tudo… menos para marido. Aqui protesto. A Associação dos Mulherengos de Angola (AMA) deve combater este fenómeno.

O meu amigo António Cassoma deve convocar uma manifestação para zelarmos pelos os nossos direitos. Porque assim fica difícil ajudar as nossas irmãs solteiras.

Continuando. Cinquenta anos depois, o frango virou luxo. Para comer um franguito inteiro, leva quase o ano todo. Hoje comes a asa, amanhã a carcaça. Depois a coxa, o pescoço, as patas, o peito, os rabinhos…, assim sucessivamente. Infelizmente, nem todos os angolanos atingem a meta. O game está mesmo duro!

Dizem que há progresso. Sim, admito. Mas é invisível. É só repararmos nas greves constantes das panelas. A barriga continua vazia. Agora só cagamos peido. Falta apenas sair os intestinos e o resto dos órgãos.

Temos estradas novas (que duram apenas duas chuvas), hospitais modernos (com médicos invisíveis) e escolas com quadros limpos (porque o giz acabou).

A corrupção? Está tão saudável que devia pagar imposto. O próprio Presidente João Lourenço que tentou combate-lo é testemunha. Se cansou e atirou a tolha.

Mas o povo também evoluiu. Já não reclama tanto. Agora “desabafa” no Facebook, o novo Parlamento popular. Mas nada faz para mudar o quadro. Os poucos atrevidos que tentaram estão bem presos.

A (in)dependência é uma marca registada. Reparem bem: tudo tem dono! A independência, o patriotismo, a bandeira e até o sofrimento. Tudo com selo do partido. Até as medalhas que andaram a oferecer por cunha.

Até a pobreza parece filiada. Pobre, mas militante. Ninguém reclama. Valdir de Jesus do Sacramento Cônego é o exemplo. Foi expulso por gritar mais que todos figurinos do Comité Central do MPLA.

Agora, dizem que estamos a comemorar os 50 anos de independência. Há quem dance, há quem chore… e há quem conte as mesmas promessas de 1975.

Mas sejamos sinceros: independência mesmo, só o discurso. O resto continua dependente da boa vontade do partido. Portanto, viva a (in)dependência à moda MPLAl!

Viva também o país onde o futuro chega sempre com atraso e o fantasma do passado nunca vai embora! E que venham mais 50 anos, com fé, e talvez, quem sabe, luz eléctrica e água.

Porque se já não podemos mudar o país, pelo menos que continuemos a rir dele antes que ele continue a rir de nós.

Tenho dito!

*Jornalista e Jurista

= A NOTÍCIA COMO ELA É =

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