Manifestação contra propinas termina em denúncia de sequestro e abuso sexual de activista

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A activista Baptista Nzonzilo, de 34 anos, afirma estar a ser alvo de perseguição desde que participou numa manifestação realizada em Luanda, organizada pelo Movimento de Estudantes Angolanos (MEA), que reuniu mais de mil pessoas para exigir ao Governo a redução das propinas nas instituições privadas de ensino a partir do ano lectivo 2025/2026. O protesto teve repercussão em várias províncias, incluindo Huambo, Bié, Uíge, Cuanza-Norte, Malanje e Benguela.

Sem Censura

Formada em gestão de empresas, Nzonzilo contou que, desde 2011, tenta ingressar na função pública sem sucesso e critica o que considera ser nepotismo e corrupção na administração pública. “As ruas sempre foram a minha rotina. Não vou parar de exigir os meus, teus e nossos direitos plasmados na Constituição”, afirmou.

Durante o protesto de 21 de Julho, a Polícia Nacional acompanhou os manifestantes até ao Largo da Independência, onde bloqueou o acesso ao Parlamento com barreiras e viaturas. A activista diz sentir-se vigiada por elementos do SIC e da Polícia de Ordem Pública: “Posso ser morta a qualquer momento. A segurança dos meus filhos e da minha família está comprometida.”

Sequestro e abuso

Dias após a manifestação, Nzonzilo relata ter sido sequestrada e abusada sexualmente na presença do filho mais novo, de três anos. O crime, segundo a vítima, foi cometido por três homens mascarados que invadiram a sua residência à procura do marido, o advogado Jugolfo Raúl Manuel Afonso, conhecido por defender casos mediáticos como as manifestações cívicas de 2015 e o caso Lussaty de 2022.

“Quando fui à sala, deparei-me com três homens altos e grandes que usavam máscaras. Revistaram todos os compartimentos da casa. Não encontrando o meu esposo, agrediram-me e abusaram sexualmente de mim na frente dos meus filhos”, relatou Nzonzilo ao Sem Censura.

A mãe da activista, que preferiu o anonimato, afirmou acreditar que a agressão está ligada às atividades profissionais do genro e à participação da filha em protestos. “Ser activista nunca foi crime. A minha filha não roubou nem matou. Apenas exige melhores condições de vida para a sua família”, desabafou.

O caso encontra-se sob investigação pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC-Luanda). A família refugiou-se na casa dos sogros e denuncia estar a receber mensagens e chamadas anónimas com ameaças de morte.

Posição do MEA e do Governo

O presidente do MEA, Francisco Teixeira, defendeu a continuidade dos protestos. “É urgente nós, jovens, levantarmo-nos contra estas medidas e lutarmos até que a verdade venha à tona”, afirmou.

Já o Presidente da República, João Lourenço, reagiu aos protestos afirmando que o direito à manifestação é legítimo e garantido pela Constituição, mas advertiu para a diferença entre atos pacíficos e infracções criminais.

“Se um cidadão queima viaturas ou destrói bens públicos, isso não é manifestação, é crime. E, como crime, deve ser tratado nos termos da lei”, disse o Chefe de Estado, acrescentando que a presença policial visa proteger os manifestantes pacíficos e não reprimi-los.

João Lourenço defendeu ainda a importância do diálogo com a juventude, para “trazê-la para o lado da esperança”, num contexto de consolidação do Estado democrático e de direito. Em resposta, Nzonzilo contrapôs: “Em Angola não há liberdade, há sim perseguição.”

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