Em entrevista exclusiva à CNN Internacional, João Lourenço reafirma compromisso com a Constituição, rejeita hipótese de um terceiro mandato e defende continuidade da luta contra a corrupção.
Fonte: semcensura.ao

O Presidente da República, João Lourenço, concedeu uma entrevista exclusiva à CNN Internacional, conduzida pelo jornalista britânico Richard Quest, na qual abordou temas centrais da atualidade nacional e internacional, entre eles os 50 anos de Independência de Angola, o combate à corrupção, a diversificação da economia, as relações diplomáticas, e as perspetivas para o pleito eleitoral de 2027.
Durante a conversa, o Chefe de Estado sublinhou que a maior conquista dos 50 anos de Angola independente é a paz, alcançada em abril de 2002, após 27 anos de conflito armado.
“Esse foi o maior ganho. Tudo o resto veio como consequência da paz que o país vive há 23 anos”, afirmou o Presidente.
Crescimento económico e combate à corrupção
Questionado sobre as reformas iniciadas desde 2017, João Lourenço afirmou que o principal objetivo do seu Executivo tem sido melhorar o ambiente de negócios e atrair investimento privado, tanto nacional como estrangeiro, destacando avanços “graduais, mas consistentes”.
Reconheceu, porém, que o combate à corrupção tem sido mais difícil do que imaginava, recordando a resistência de certos grupos aos processos de moralização do Estado.
“Ninguém queria perder privilégios. Tivemos de deixar que a Justiça fizesse o seu trabalho”, frisou.
O Presidente manifestou confiança de que a nova geração já cresce com uma mentalidade diferente, entendendo que a corrupção “prejudicou bastante o desenvolvimento económico e social do país”.
Economia não petrolífera e relações internacionais
Ao abordar a diversificação económica, João Lourenço assegurou que Angola não tem preferências exclusivas entre os seus parceiros, reafirmando a política de cooperação aberta com todas as potências.
“Todos são bem-vindos. Não há necessidade de excluir uns para prevalecer outros”, declarou, referindo-se aos Estados Unidos, à China e a outros parceiros estratégicos.
O estadista destacou ainda a importância de investir em infraestruturas para fortalecer o comércio intra-africano, defendendo maior mobilização de capital interno e integração regional.
“Não há integração sem infraestruturas energéticas, de telecomunicações e de transporte”, afirmou.
Direitos, protestos e liberdade de imprensa
Sobre as críticas internacionais relativas ao uso excessivo da força em manifestações e à liberdade de expressão, João Lourenço garantiu que Angola é um dos países africanos com maior liberdade de imprensa.
“Hoje existe um elevado número de rádios comunitárias, jornais e plataformas digitais. Mesmo em períodos eleitorais, nunca o Governo cortou a internet”, assegurou.
Quanto aos protestos motivados pela redução dos subsídios aos combustíveis, o Presidente defendeu que a resposta das forças de segurança foi proporcional, argumentando que se tratou de “rebeliões que destruíram património público e privado”.
Eleições de 2027 e sucessão presidencial
Questionado sobre uma eventual candidatura para um terceiro mandato, João Lourenço reafirmou que respeitará a Constituição, que permite apenas dois mandatos presidenciais.
“É uma não-questão. A Constituição só permite dois mandatos e nós respeitamos a Constituição e a Lei”, respondeu.
O Presidente lembrou ainda que, mesmo quando o MPLA detinha maioria qualificada para alterar a Constituição, optou por não modificar o artigo que limita os mandatos, reafirmando que “nunca houve vontade de prolongar-se no poder”.
Legado e inclusão social
Ao ser questionado sobre o legado que pretende deixar após 2027, João Lourenço destacou a continuidade do processo de reconciliação nacional, o investimento em infraestruturas sociais, e a solução estrutural para a seca no Sul do país, com projetos que aproveitam o potencial do rio Cunene.
Por fim, o Chefe de Estado lembrou que Angola deu um passo histórico ao descriminalizar as relações homossexuais, reafirmando o compromisso do país com a igualdade e a não discriminação.
“Sempre fomos contra qualquer tipo de discriminação. Isso só torna a nossa sociedade mais forte”, concluiu.