FOME PROVOCA MORTES NO CUANDO CUBANGO

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Na província do Cuando Cubango, cerca de 60 mil pessoas estão a viver em condições extremas de pobreza, com à fome e o aumento de mortes como principais consequências.

De acordo com os relatos de moradores locais, a seca e a estiagem que afectam, principalmente, o Município do Rivungo, são as causas directas desta crise humanitária.

Só neste município, pelo menos 15 mortes foram registadas devido à fome, sendo oito na aldeia de Nalwango, um na aldeia Liondongoma, na comuna do Chipundo, três na aldeia de Diporo, na comuna do Luiana, e o restante no Bairro Novo, na sede municipal.

O município de Mavinga também tem registado óbitos, embora os números não tenham sido oficialmente divulgados. A situação é semelhante em outros municípios, especialmente na zona da orla. Sem alimentos suficientes, muitos moradores recorrem ao consumo de frutos e tubérculos silvestres, não aprovados para o consumo humano, o que tem gerado outros problemas de saúde e, em muitos casos, mortes.

Em busca de uma vida melhor, alguns moradores tentam migrar para os países vizinhos, como Zâmbia e Namíbia. Porém, o êxodo é marcado por tragédias: os mais frágeis, como idosos e crianças, não resistem à viagem e acabam por falecer no caminho. Recentemente, a aldeia de Diporo, no Luiana, foi palco da morte de Siambo, uma mulher de 67 anos, e Mucoya, um homem de 50 anos, ambos vítimas desse êxodo forçado.

As autoridades tradicionais afirmam que os gritos de socorro da população já são do conhecimento do governo provincial e dos administradores municipais. Contudo, as autoridades locais não têm se deslocado até as comunidades para verificar a situação, nem para realizar o cadastro das vítimas, dificultando a elaboração de relatórios que possam subsidiar decisões em níveis superiores do governo. Uma das denúncias feitas por uma autoridade local aponta para a falta de comprometimento do administrador municipal do Rivungo, que nunca realiza visitas às zonas afectadas.

Para tentar sobreviver, alguns moradores recorrem à caça furtiva no Parque Nacional do Luengue-Luiana, arriscando a própria vida na busca por alimentos. Muitos angolanos fugiram para a Namíbia e Zâmbia em busca de abrigo, mas a tragédia continua. “O maior problema é quando apresentamos essas preocupações nas reuniões do conselho ou na comissão executiva do partido. As respostas que recebemos fazem doer o coração”, lamenta uma autoridade tradicional local.

Os frutos silvestres, como maboque, mangongo e cassalala (uma planta semelhante a palmeira), são os principais alimentos consumidos pela população, que recorda com nostalgia o tempo em que a província foi governada por Júlio Bessa. Naquela época, houve uma forte produção de milho e outros cereais, que ajudaram a combater à fome e a impulsionar o comércio, especialmente nos municípios da orla. No entanto, a falta de continuidade dos projectos agrícolas e a escassez de inteligência na execução de políticas públicas deixaram as regiões à mercê da fome e da escassez.

Moradores e autoridades locais culpam o actual governador da província, José Martins, por não dar continuidade às iniciativas de desenvolvimento. Muitos acreditam que sua nomeação e a nomeação de familiares sem competência para cargos públicos resultaram na incapacidade de resolver os problemas da população. “O povo está a pagar uma fatura cara por isso”, afirmam, apontando para a falta de acção concreta do governo em resposta à crise humanitária que afecta a região.

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