A designação Camabatela ou Kamabatela, é referente a comuna de Camabatela, no município de Ambaca, província do Cuanza Norte. A escolha do nome faz menção a bravura e resistência do povo desta região, que teve um papel preponderante na luta contra a opressão colonial. Os jovens, inspirados na história do povo Camabatela, que tinham o lema de “nunca recuar”, formaram o grupo com a mesma designação, no interior da Comarca Central de Luanda – CCL, em 2004, com finalidade de se defender de grupos rivais.
No entanto, crescidos e com maior experiência sobre a vida, decidiram inverter a finalidade do grupo, de associação criminosa em associação do bem, que combate contra a criminalidade. Em 2020, fruto de um concílio entre grupos de vários municípios, nomeadamente Cazenga, Cacuaco, Sambizanga e Viana, deu-se o surgimento da Associação Kamabatela, tendo como principal idealizador, José Gabriel Timóteo Dias “Babiletsa”, presidente da mesma. “ Do mesmo jeito que influenciamos as pessoas no mundo da criminalidade, é da mesma maneira que aparecemos para desencorajá-los”.
A associação tem sede no bairro Hoji-Ya-Henda, município do Cazenga, congrega mais de cinco mil jovens, dos quais, cinquenta estão na linha da frente. A mesma, possui quadros, que longe do crime há algum tempo, tiveram a oportunidade de recomeçar e se formar em distintas áreas do saber, nomeadamente o Direito, Engenharia e outras.
São vários os jovens, entre condenados e ex presidiários, que veem na associação uma oportunidade de recomeçar, pese embora, revelam não ser fácil reconquistar a confiança das pessoas, que outrora os considerava altamente perigosos. Leonel Teles, 38 anos, jurista, diz não ser fácil convencer os mais novos a abandonar a criminalidade, uma prática que quase o tirou a vida. Daí que, apela o apoio das entidades, na criação de estratégias viáveis, que combatam o crime.
Há anos fora da criminalidade, Leonel Teles, enaltece o papel da associação Kamabatela e revela ser “a fome, o grande impulsionador do aumento do índice de criminalidade no país”.
José Gabriel Timóteo Dias, também conhecido por “Babiletsa”, de 35 anos, presidente da associação, acredita que, combatendo o dilema da fome que assola várias famílias, diminuirá a taxa de criminalidade. O mesmo fez saber que, a sua associação possui soluções para tal efeito, pelo que, solicita uma audiência com o Presidente da República, João Lourenço.
Partindo deste pressuposto, a associação estabeleceu parcerias com alguns empresários nacionais e estrangeiros (guineenses, malianos, nigerianos, senegaleses, chineses, etc.), no sentido de empregar muitos destes jovens, que tomaram a decisão de abraçar a lei. E esta realidade podemos comprovar em vários estabelecimentos comerciais, localizados no bairro Hoji-Ya-Henda. Porém, isto só, não basta. No entendimento de “Babiletsa”, é necessário outros projectos que, incentivem os jovens às boas práticas.
Para despertar o interesse e reintegração dos ex criminosos, no mercado de trabalho, a associação almeja a construção de estabelecimentos comerciais, com foco na venda de móveis, como cadeirões, mesas de centro e de jantar, artigos de caixilharia, fabricados por eles. Também, tenciona a criação de uma produtora musical, denominada de Zukas Produções, para despertar talentos e relançar carreira de músicos desacreditados, por envolvência no crime. Pelo o que apuramos, há já um espaço reservado para a criação da produtora, lá no Cazenga e apelam aos demais empresários que, abracem o projecto e possam resplandecer a esperança no seio da comunidade.