O AMOR DE UM PAI, O PERDÃO DE UM PRESIDENTE. QUEM SERIA CAPAZ DE IGNORAR?

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O drama familiar marcou toda a vida e a carreira política de Joe Biden. Em janeiro de 1973, com 30 anos feitos há pouco, tomava posse como senador no hospital onde o filho Beau continuava internado depois do acidente de carro, em vésperas de Natal, que matara a mãe e a irmã bebé e o deixara ferido a ele e ao irmão Hunter.

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No final dos anos 1980, já depois de voltar a casar e de ser pai de outra menina, sobreviveu a dois aneurismas, meses após ter desistido da sua primeira candidatura presidencial. Em 2015, Beau, procurador-geral do Delaware e estrela em ascensão dos democratas, morria de cancro no cérebro aos 46 anos.

Apesar do incentivo deste a que se candidatasse às presidenciais, Biden, então vice-presidente de Obama, não avançaria, demasiado afetado por mais uma tragédia, e apoiaria Hillary Clinton. E em 2020, quando cumpriu o desejo de Beau e avançou para evitar um segundo mandato de Donald Trump, Biden viu os republicanos acusarem Hunter de corrupção pelos seus negócios na Ucrânia. Mas estes não são os únicos problemas judiciais do filho mais velho do ainda presidente. O empresário foi condenado por evasão fiscal, e posse de arma e ocultação de consumo de drogas, enfrentando penas máximas de 17 e 25 anos. Crimes de que Biden agora o indultou, pouco mais de um mês antes de deixar a presidência. 

“Espero que os americanos compreendam”, disse o presidente, garantindo que Hunter foi alvo de perseguição política. Ora, se o perdão foi presidencial, a decisão foi de um pai. Um pai que viu a velhice afastá-lo de um novo mandato, forçado pelo próprio partido a desistir da candidatura, apenas para ver a sua vice, Kamala Harris, falhar na tarefa de evitar o regresso de Trump à Casa Branca. E perante a perspetiva de ter o republicano mais quatro anos na presidência e a justiça atrás do filho que lhe resta tomou uma decisão criticável. 

E não faltou quem o criticasse, desde Trump – ele próprio alvo de vários processos judiciais -, que denunciou “um abuso da Justiça” e deixou no ar a hipótese de perdoar os responsáveis pela invasão do Capitólio mal tome posse, a 20 de janeiro, a muitos democratas, para os quais a decisão do presidente mina a confiança no sistema judicial. 

Se os americanos vão compreender? Alguns. Quem não faria tudo para ajudar um filho, se pudesse? Mas a opção de Biden não deixa de parecer egoísta – e mesmo hipócrita – vinda de um homem que sempre disse respeitar a separação de poderes e não interferir com a Justiça. Mas com certeza terá sido o resultado de uma longa batalha entre razão e coração.

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